História e Origem
Hoje terminei uma das varinhas mais perigosas que já passaram pelas minhas mãos — e confesso que ainda sinto o peso dela vibrando no ar do ateliê, como se a madeira recém-polida respirasse. Dei-lhe o nome que o próprio monstro inspirou: Arranca-Língua.
Fui buscar seus componentes no coração do Centro-Oeste, em uma mata onde o ar parece pesado demais para ser natural. Lá, dizem que vive a criatura homônima — um ser de pura maldade, com corpo bestial de quase quatro metros, força descomunal e olhos que queimam como carvão. Mas o que mais assusta é sua capacidade de se transformar em árvore, usando suas sombras para atrair viajantes cansados. Os que se aproximam demais têm a língua arrancada antes que consigam gritar, e o resto… bom, a floresta se encarrega de esconder.
Foi a fibra do coração desse ser que escolhi como núcleo da varinha. Nunca havia trabalhado com uma energia tão violenta, tão pulsante. O simples ato de tocá-la fez o ar ao redor vibrar. Para o cabo, usei o osso do próprio Arranca-Língua, endurecido por séculos de maldições e magia escura. Quando a fibra do coração se fundiu ao osso, algo inesperado aconteceu — a própria varinha transmutou a ponta, criando uma madeira mágica jamais vista antes, impossível de ser encontrada fora desse instante de conjunção. É como se a essência da criatura tivesse tentado se reconstruir, aprisionada em forma de artefato.
A Arranca-Língua é viva. E perigosa. Ela não tolera mestres indecisos nem corações brandos. Reconhece a ambição, a raiva e o desejo de poder — e é a esses sentimentos que responde. Nas mãos de um bruxo comum, é apenas um pedaço de osso e magia bruta. Mas nas mãos de um verdadeiro senhor das trevas, ela se torna um canal perfeito para feitiços de transmutação e destruição.
Enquanto eu a esculpia, o estúdio inteiro parecia respirar junto dela. Por um breve instante, juro que vi sua sombra se mover sozinha, estendendo-se sobre a parede como o vulto de uma árvore, como se a criatura ainda tentasse se esconder ali.
Nunca me senti tão dividido entre fascínio e medo. Terminei o trabalho com as mãos trêmulas e o coração acelerado. Ela agora repousa sobre a mesa, envolta em tecido negro — e mesmo assim, é como se me observasse.
Há varinhas que nascem para curar. Outras, para proteger.
A Arranca-Língua nasceu para dominar.
Pergaminho

Informações Técnicas
Informações da Primeira Edição
Esta varinha já teve sua Primeira Tiragem, cada uma numerada e destinada a bruxos e bruxas que ouviram esse chamado.
Carregar uma peça dessa tiragem é mais do que possuir um artefato mágico: é guardar consigo um fragmento do início de uma nova era.

