História e Origem
Hoje terminei uma varinha que me arrancou risadas, urticárias e, confesso, uma boa dose de irritação. Batizei-a de Tekoju, e ainda sinto o cheiro adocicado de mel e fumo no ar do ateliê — oferendas que precisei deixar à beira da mata para não enlouquecer completamente durante o processo.
Fui até Pernambuco em busca de seus ingredientes, e nunca imaginei que o oiticoró, árvore símbolo do estado, pudesse esconder tanta altivez sob uma copa tão arredondada. Sua madeira tem um brilho quase dourado, e quando a lâmina a corta, o cheiro que sobe é quente e doce, como se a própria árvore tivesse guardado o sol dentro do tronco. Era o material perfeito para abrigar o núcleo que eu tinha em mente: um fio de cabelo da Comadre Fulozinha.
Ah, a Fulozinha… criatura encantadora e infernal em igual medida. Habita as matas de Pernambuco, ora ajudando viajantes perdidos, ora pregando-lhes peças tão cruéis que beiram o sadismo. É vaidosa, cheia de caprichos, e seu humor muda com a mesma velocidade que o vento entre as folhas. Adora presentes — mel, fumo, e palavras bonitas. Mas cuidado: nunca, jamais, confunda-a com a Caipora. Fiz esse erro uma única vez, e ainda sinto o ardor das urtigas nos braços. Ela me atacou com os próprios cabelos — fios vivos, cortantes como lâminas, que dançam no ar como serpentes.
Foi de um desses fios que fiz o núcleo da Tekoju. E o resultado… bem, digamos que essa varinha tem personalidade demais. Temperamental, sedutora, perigosa. Ama bruxos impulsivos, de mente inquieta e coração inflamado. Sente prazer nas magias — literalmente. Ao conjurar, o bruxo sente uma onda de calor percorrer o corpo, uma vibração que beira o êxtase. E é aí que mora o perigo: prazer em excesso pode cegar até o mais disciplinado dos magos.
A Tekoju é semi-flexível, e isso faz dela uma varinha volúvel. Se sentir que outro bruxo pode lhe oferecer experiências mais intensas — ou um poder mais excitante — ela mudará de mestre sem remorso algum. Mas não tente usá-la antes que ela o aceite: suas urtigas mágicas se espalharão por sua pele, e você passará dias ardendo em coceiras e bolhas.
No entanto, para os que sabem dominar o caos, essa varinha é uma companheira insubstituível. Ela amplifica magias de ilusão, manipulação mental e encantamentos de engano, transformando o prazer da criação mágica em um espetáculo luminoso. Por isso, decorei o cabo com um pequeno detalhe em homenagem ao frevo — afinal, toda energia pernambucana merece dançar, mesmo quando beira a loucura.
Terminei a peça com as mãos latejando, e o ateliê pareceu suspirar junto comigo. Ainda escuto o riso leve da Comadre Fulozinha entre as sombras. Talvez ela tenha gostado do resultado. Ou talvez só esteja zombando de mim mais uma vez.
Pergaminho

Informações Técnicas
Informações da Primeira Edição
Esta varinha já teve sua Primeira Tiragem, cada uma numerada e destinada a bruxos e bruxas que ouviram esse chamado.
Carregar uma peça dessa tiragem é mais do que possuir um artefato mágico: é guardar consigo um fragmento do início de uma nova era.

